psicoses

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Introdução

Generalidades
A psicose é um estado anormal de funcionamento psíquico. Mesmo não sabendo exatamente como são as patologias psiquiátricas, podemos imaginar algo semelhante ao compará-las com determinadas experiências pessoais. A tristeza e a alegria assemelham-se à depressão e a mania, a dificuldade de recordar ou de aprender estão relacionada à demência e ao retardo, o medo e a ansiedade perante situações corriqueiras têm relações com os transtornos fóbicos e de ansiedade. Da mesma forma outros transtornos psiquiátricos podem ser imaginados a partir de experiências pessoais. No caso da psicose não há comparações, nem mesmo um sonho por mais irreal que seja, não é semelhante à psicose.

A essência da psicose
Quando alguém nos conta uma história realista dependendo da confiança que temos nessa pessoa acreditaremos na história. Na medida em que constatamos indícios de que a história é falsa começamos a pensar que nosso amigo se enganou ou que no fundo não era tão confiável assim. Nesse evento o que se passou? Primeiro, um fato é admitido como verdadeiro, depois novos conhecimentos ligados ao primeiro são adquiridos, por fim a confrontação dos fatos permite a verificação de uma discordância. Do raciocínio lógico surgiu um questionamento. Essa forma de proceder provavelmente é exercida diariamente por todos nós. A forma de conduzir idéias confrontando-as com os fatos é uma maneira de estabelecer o contato com a realidade. O que aconteceria se essa função mental não pudesse mais ser executada? Estaríamos diante de um estado psicótico!
Pois bem, o aspecto central da psicose é a perda do contato com a realidade, dependendo da intensidade da psicose. Num dado momento a perda será de maior ou menor intensidade. Os psicóticos quando não estão em crise, zelam pelo seu bem estar, alimentam-se, evitam machucar-se, têm interesse sexual, estabelecem contato com pessoas reais. Isto tudo é indício da existência de um relacionamento com o mundo real. A psicose propriamente dita começa a partir do ponto em que o paciente relaciona-se com objetos e coisas que não existem no nosso mundo. Modifica seus planos, suas idéias, suas convicções, seu comportamento por causa de idéias absurdas, incompreensíveis, ao mesmo tempo em que a realidade clara e patente significa pouco ou nada para o paciente. Um psicótico pode sem motivo aparente cismar que o vizinho de baixo está fazendo macumba para ele morrer, mesmo sabendo que no apartamento de baixo não mora ninguém. A cisma nesse caso pertence ao mundo psicótico e a informação aceita de que ninguém mora lá é o contato com o mundo real. No nosso ponto de vista são dados conflitantes, para um psicótico não são, talvez ele não saiba explicar como um vizinho que não está lá pode fazer macumba para ele, mas a explicação de como isso acontece é irrelevante, o fato é que o vizinho está fazendo macumba e pronto. O psicótico vive num mundo onde a realidade é outra, inatingível por nós ou mesmo por outros psicóticos, mas vive simultaneamente neste mundo real.

Delírio, o principal sintoma
O delírio é toda convicção inabalável, incompreensível e absurda que um psicótico tem. O delírio pode ser proveniente de uma recordação para a qual o paciente dá uma nova interpretação, pode vir de um gesto simples realizado por qualquer pessoa como coçar a cabeça pode vir de uma idéia criada pelo próprio paciente, pode ser uma fantasia como acreditar que seres espirituais estejam enviando mensagens do além através da televisão, ou mais realistas como achar que seu sócio está roubando seu dinheiro. O delírio proveniente de eventos simples como coçar a cabeça são as percepções delirantes. Ver uma pessoa coçar a cabeça não pode significar nada, mas para um paciente delirante pode, como um sinal de que a pessoa que coçou a cabeça julga-o (paciente) homossexual. Quando a idéia é muito absurda é fácil ver que se trata de um delírio, mas quando é plausível é necessário examinar a forma como o paciente pratica a idéia que defende. O exemplo do vizinho acima citado também é um delírio. A constatação de um delírio não é tarefa para leigos, nem mesmo os clínicos gerais estão habilitados para isso; somente os psiquiatras e profissionais da área de saúde mental.

Transtorno Psicótico Breve
Os indivíduos com Transtorno Psicótico Breve tipicamente experimentam tumulto emocional ou confusão maciça. Eles podem ter rápidas oscilações de um afeto intenso para outro.

Embora breve, o nível de prejuízo pode ser severo, podendo exigir supervisão para garantir que as necessidades higiênicas e nutricionais sejam atendidas e que o indivíduo seja protegido das conseqüências do fraco julgamento e do prejuízo cognitivo ou de atuar com base em seus delírios.

Parece haver um risco aumentado de mortalidade (com um risco particularmente alto de suicídio), em especial entre indivíduos mais jovens. Transtornos da Personalidade preexistentes (por ex., Transtorno da Personalidade Paranóide, Histriônica, Narcisista, Esquizotípica ou Borderline) podem predispor o indivíduo ao desenvolvimento do transtorno.

Características Específicas à Cultura
É importante distinguir entre os sintomas de um Transtorno Psicótico Breve e padrões de resposta culturalmente aceitos. Em algumas cerimônias religiosas, por exemplo, um indivíduo pode relatar que ouve vozes, mas estas geralmente não persistem nem são percebidas como anormais pela maioria dos membros da sua comunidade.

Prevalência
As poucas evidências disponíveis sugerem que o Transtorno Psicótico Breve é raro.

Curso
O Transtorno Psicótico Breve pode aparecer na adolescência ou início da idade adulta, ocorrendo em média ao final da década dos 20 anos ou início dos 30.

Por definição, um diagnóstico de Transtorno Psicótico Breve exige a remissão completa de todos os sintomas e um retorno ao nível pré-mórbido de funcionamento dentro de 1 mês após o início da perturbação. Em alguns indivíduos, a duração dos sintomas psicóticos pode ser bastante breve (por ex., alguns dias).

Padrão Familial
Algumas evidências indicam que o Transtorno Psicótico Breve pode estar relacionado aos Transtornos do Humor, enquanto outras evidências sugerem que ele pode ser distinto tanto da Esquizofrenia quanto dos Transtornos do Humor.

Diagnóstico Diferencial
Uma ampla variedade de condições médicas gerais pode apresentar-se com sintomas psicóticos de curta duração. Um diagnóstico de Transtorno Psicótico Devido a uma Condição Médica Geral ou delirium é feito quando existem evidências, a partir da história do exame físico ou de testes laboratoriais, indicando que os delírios e alucinações são a conseqüência fisiológica direta de uma condição médica geral específica (por ex., síndrome de Cushing, tumor cerebral).

Transtorno Psicótico Induzido por Substância, Delirium Induzido por Substância e Intoxicação com Substância são diferenciados do Transtorno Psicótico Breve pelo fato de que uma substância (por ex., uma droga de abuso, um medicamento ou exposição a uma toxina) supostamente está etiologicamente relacionada com os sintomas psicóticos.

Testes laboratoriais, como exame de urina para drogas ou do nível alcoólico no sangue, podem ser úteis para essa determinação, assim como uma anamnese criteriosa do uso de substâncias, com atenção para a relação temporal entre o consumo de uma substância e o início dos sintomas e para a natureza da substância usada.

O diagnóstico de Transtorno Psicótico Breve não pode ser feito se os sintomas psicóticos são melhor explicados por um episódio de humor (isto é, os sintomas psicóticos ocorrem exclusivamente durante um Episódio Depressivo Maior, Maníaco ou Misto). Se os sintomas psicóticos persistem por 1 mês ou mais, o diagnóstico é de Transtorno Esquizofreniforme, Transtorno Delirante, Transtorno do Humor com Aspectos Psicóticos ou Transtorno Psicótico Sem Outra Especificação, dependendo dos demais sintomas.

O diagnóstico diferencial entre Transtorno Psicótico Breve e Transtorno Esquizofreniforme é difícil, quando os sintomas psicóticos apresentam remissão antes de 1 mês, em resposta a um tratamento medicamentoso eficaz. Uma vez que episódios recorrentes de Transtorno Psicótico Breve são raros, deve-se prestar muita atenção à possibilidade de que um transtorno recorrente (por ex., Transtorno Bipolar, exacerbações agudas recorrentes de Esquizofrenia) seja responsável por quaisquer episódios psicóticos recorrentes.

Um episódio de Transtorno Factício Com Sinais e Sintomas Predominantemente Psicológicos pode ter a aparência de um Transtorno Psicótico Breve, mas nesses casos existem evidências de que os sintomas são intencionalmente produzidos.

Quando a Simulação envolve sintomas aparentemente psicóticos, em geral existem evidências de que a doença está sendo simulada por um objetivo compreensível.

Em certos indivíduos com Transtornos da Personalidade, os estressores psicossociais podem precipitar breves períodos de sintomas psicóticos, que geralmente são temporários e não indicam um diagnóstico separado. Se os sintomas psicóticos persistem por pelo menos 1 dia, pode-se aplicar um diagnóstico adicional de Transtorno Psicótico Breve.

Critérios Diagnósticos para F23.xx - 298.8 Transtorno Psicótico Breve
A. Presença de um (ou mais) dos seguintes sintomas:
(1) delírios
(2) alucinações
(3) discurso desorganizado (por ex., decarrilamento ou incoerência freqüentes)
(4) comportamento amplamente desorganizado ou catatônico
Nota: Não incluir um sintoma que seja um padrão de resposta culturalmente sancionado.
B. A duração de um episódio da perturbação é de, no mínimo, 1 dia, mas menos de 1 mês, com retorno completo ao nível de funcionamento pré-mórbido.
C. A perturbação não é melhor explicada por Transtorno do Humor com Aspectos Psicóticos, Transtorno Esquizoafetivo ou Esquizofrenia, nem se deve aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (por ex., droga de abuso, medicamento) ou de uma condição médica geral.
Especificar se:
Com Estressor(es) Acentuado(s) (psicose reativa breve): se os sintomas ocorrem logo após e aparentemente em resposta a eventos que, isoladamente ou em conjunto, seriam estressantes demais para praticamente qualquer pessoa em circunstâncias similares na cultura do indivíduo.
Sem Estressor(es) Acentuado(s): se os sintomas psicóticos não ocorrem logo após ou aparentemente não consistem de respostas a eventos que, isoladamente ou em conjunto, seriam estressantes demais para praticamente qualquer pessoa em circunstâncias similares na cultura do indivíduo.
Com Início no Pós-Parto: se o início ocorre em 4 semanas pós-parto.

 

Transtorno Delirante
Características Diagnósticas
A característica essencial do Transtorno Delirante é a presença de um ou mais delírios não-bizarros que persistem por pelo menos 1 mês (Critério A). Um diagnóstico de Transtorno Delirante não é dado se o indivíduo já apresentou um quadro sintomático que satisfazia o Critério A para Esquizofrenia (Critério B). Alucinações auditivas ou visuais, se presentes, não são proeminentes.

Alucinações táteis ou olfativas podem estar presentes (e ser proeminentes), se relacionadas ao tema do delírio (por ex., sensação de estar infestado com insetos, associada com delírios de infestação, ou a percepção de emitir odor fétido por um orifício corporal, associada com delírios de referência). Exceto pelo impacto direto dos delírios, o funcionamento psicossocial não está acentuadamente prejudicado, e o comportamento não é obviamente estranho ou bizarro (Critério C).

Se episódios de humor ocorrem concomitantemente com os delírios, sua duração total é relativamente breve, comparada com a duração total dos períodos delirantes (Critério D). Os delírios não se devem aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (por ex., cocaína) ou uma condição médica geral (por ex., doença de Alzheimer, lúpus eritematoso sistêmico) (Critério E).

Embora seja especialmente importante determinar se os delírios são bizarros para a distinção entre Transtorno Delirante e Esquizofrenia, este caráter bizarro pode ser difícil de julgar, especialmente entre diferentes culturas. Os delírios são considerados bizarros quando claramente implausíveis, incompreensíveis e não extraídos de experiências comuns da vida (por ex., a crença de um indivíduo de que um estranho retirou seus órgãos internos e os substituiu pelos de outra pessoa sem deixar quaisquer cicatrizes ou ferimentos).

Em comparação, os delírios não-bizarros envolvem situações que poderiam concebivelmente ocorrer (por ex., ser seguido, envenenado, infectado, amado à distância ou traído pelo cônjuge ou parceiro romântico).

O funcionamento psicossocial é variável. Alguns indivíduos podem parecer relativamente intactos em seus papéis interpessoais e ocupacionais. Em outros, o prejuízo pode ser substancial e incluir baixo ou nenhum funcionamento ocupacional e isolamento social.

Quando um fraco funcionamento psicossocial está presente no Transtorno Delirante, ele decorre diretamente das próprias crenças delirantes. Por exemplo, um indivíduo convencido de que será assassinado por "criminosos da Máfia" pode abandonar seu emprego e se recusar a sair de casa, exceto tarde da noite e apenas usando roupas diferentes de seus trajes habituais. Todo este comportamento é uma tentativa compreensível de evitar ser identificado e morto por seus supostos assassinos.

Em comparação, o fraco funcionamento na Esquizofrenia pode ser devido a sintomas tanto positivos quanto negativos (particularmente avolição). Similarmente, uma característica comum em indivíduos com Transtorno Delirante é a aparente normalidade de seu comportamento e aparência quando suas idéias delirantes não estão sendo questionadas ou postas em prática. Em geral, o funcionamentos social e conjugal estão mais propensos a sofrer prejuízos do que os funcionamentos intelectual e ocupacional.

Subtipos
O tipo de Transtorno Delirante pode ser especificado com base no tema delirante predominante:

Tipo Erotomaníaco. Este subtipo aplica-se quando o tema central do delírio diz respeito a ser amado por outra pessoa. O delírio freqüentemente envolve um amor romântico e união espiritual idealizada, ao invés de atração sexual.

A pessoa sobre a qual esta convicção é mantida geralmente detém uma posição social superior (por ex., uma pessoa famosa ou um superior no trabalho), mas pode ser um completo estranho. Os esforços para contatar o objeto do delírio (por telefonemas, cartas, presentes, visitas ou até mesmo vigilância) são comuns, embora ocasionalmente a pessoa mantenha seu delírio em segredo.

A maioria dos indivíduos com este subtipo em amostras clínicas consiste de mulheres; a maior parte dos indivíduos com este subtipo em amostras forenses são homens. Algumas das pessoas com o Tipo Erotomaníaco, particularmente os homens, entram em conflito com a lei em seus esforços no sentido de alcançar o objeto de seu delírio ou em tentativas desencaminhadas de "salvá-lo" de algum perigo imaginário.

Tipo Grandioso. Este subtipo aplica-se quando o tema central do delírio é a convicção de ter algum grande talento (irreconhecido) ou conhecimento ou de ser o autor de alguma descoberta importante. Com menor freqüência, o indivíduo pode ter o delírio de possuir um relacionamento especial com uma pessoa importante (por ex., de servir de consultor para o Presidente) ou de ser uma pessoa importante (sendo que neste caso a pessoa real pode ser considerada uma impostora).

Os delírios grandiosos podem ter um conteúdo religioso (por ex., a pessoa acredita ter uma mensagem especial oferecida por uma divindade).

Tipo Ciumento. Este subtipo aplica-se quando o tema central do delírio diz respeito a estar sendo traído pelo cônjuge ou parceiro romântico. Esta crença é injustificada e está baseada em inferências incorretas apoiadas por pequenas "evidências" (por ex., roupas em desalinho ou manchas nos lençóis), que são colecionadas e usadas para justificar o delírio.

O indivíduo com o delírio geralmente confronta seu cônjuge ou parceiro e tenta intervir na infidelidade imaginada (por ex., restringindo a autonomia do cônjuge ou parceiro, seguindo-o em segredo, investigando o amante imaginário ou agredindo o parceiro).

Tipo Persecutório. Este subtipo aplica-se quando o tema central do delírio envolve a crença de estar sendo vítima de conspiração, traição, espionagem, perseguição, envenenamento ou intoxicação com drogas, estar sendo alvo de comentários maliciosos, de assédio ou obstruído em sua busca de objetivos de longo prazo. Pequenos deslizes podem ser exagerados e se tornar o foco de um sistema delirante.

O foco do delírio freqüentemente se concentra em alguma injustiça que deve ser remediada pela ação legal ("paranóia querelante"), podendo a pessoa afetada envolver-se em repetidas tentativas de obter satisfação, apelando aos tribunais e outras agências governamentais.

Os indivíduos com delírios persecutórios com freqüência sentem ressentimento e raiva, podendo recorrer à violência contra aqueles que supostamente os estão prejudicando.

Tipo Somático. Este subtipo aplica-se quando o tema central do delírio envolve funções ou sensações corporais. Os delírios somáticos podem ocorrer de diversas formas. Os mais comuns envolvem a convicção de estar emitindo odor fétido através da pele, boca, reto ou vagina, de estar infestado com insetos sobre ou sob a pele, de abrigar um parasito interno; de que certas partes do corpo são (contrariamente a todas as evidências) malformadas ou feias, ou de que certas partes do corpo (por ex., o intestino grosso) não estão funcionando.

Tipo Misto. Este subtipo aplica-se quando não há predomínio de qualquer tema delirante.
Tipo Inespecificado. Este subtipo aplica-se quando a crença dominante no delírio não pode ser claramente determinada ou não está descrita entre os tipos específicos (por ex., delírios de referência sem um componente persecutório ou grandioso proeminente).

Características e Transtornos Associados
Problemas sociais, conjugais ou profissionais podem resultar das crenças delirantes do Transtorno Delirante. Idéias de referência (por ex., de que eventos aleatórios têm uma importância especial) são comuns em indivíduos com este transtorno. A interpretação desses eventos geralmente é consistente com o conteúdo de suas crenças delirantes.

Muitos indivíduos com Transtorno Delirante desenvolvem um humor irritável ou disfórico, que habitualmente pode ser compreendido com uma reação às suas crenças delirantes. Especialmente com os Tipos Persecutório e Ciumento, podem ocorrer acentuada raiva e comportamento violento. O indivíduo pode envolver-se em um comportamento litigioso, ocasionalmente levando a centenas de cartas de protesto a órgãos governamentais ou legais e muitas aparições em tribunais.

Dificuldades legais podem ocorrer no Transtorno Delirante, Tipo Ciumento e Tipo Erotomaníaco. Os indivíduos com Transtorno Delirante, Tipo Somático, podem submeter-se a exames e procedimentos médicos desnecessários. Deficiência auditiva, severos estressores psicossociais (por ex., imigração) e baixa situação sócio-econômica podem predispor um indivíduo ao desenvolvimento de Transtorno Delirante.

A ocorrência de Episódios Depressivos Maiores provavelmente é maior em indivíduos com Transtorno Delirante do que na população geral. Tipicamente, a depressão é relativamente leve e começa após o início das crenças delirantes proeminentes. O Transtorno Delirante pode estar associado com Transtorno Obsessivo-Compulsivo, Transtorno Dismórfico Corporal e Transtornos da Personalidade Paranóide, Esquizóide ou Esquiva.

Características Específicas à Cultura e ao Gênero
A bagagem cultural e religiosa de um indivíduo deve ser levada em conta na avaliação da possível presença de Transtorno Delirante. Algumas culturas têm crenças amplamente mantidas e culturalmente aceitas, que poderiam ser consideradas delirantes em outros contextos. O conteúdo dos delírios também varia entre diferentes culturas e subculturas.

O Transtorno Delirante, Tipo Ciumento, provavelmente é mais comum em homens do que em mulheres, mas não parece haver uma grande diferença entre os gêneros na freqüência do Transtorno Delirante em geral.

Prevalência
O Transtorno Delirante é relativamente incomum nos contextos clínicos, e a maioria dos estudos sugere que o transtorno responde por 1-2% das baixas nos sistemas de internação em saúde mental. Ainda há informações precisas insuficientes sobre a prevalência deste transtorno na população, mas a melhor estimativa situa-se em torno de 0,03%.

Em vista de sua idade de aparecimento geralmente tardia, o risco de morbidade durante a vida pode estar entre 0,05 e 0,1%.

Curso
O início do Transtorno Delirante em geral se situa na fase intermediária ou tardia da idade adulta, mas pode ocorrer antes. O Tipo Persecutório é o subtipo mais comum. O curso é bastante variável. Especialmente no caso do Tipo Persecutório, o transtorno pode ser crônico, embora freqüentemente ocorram períodos de preocupação maior ou menor com as crenças delirantes.

Em outros casos, períodos de remissão completa podem ser seguidos por recaídas. Em outros casos, ainda, o transtorno apresenta remissão em alguns meses, sem recaída subseqüente. Algumas evidências sugerem que o Tipo Ciumento pode ter um prognóstico melhor do que o Tipo Persecutório.

Padrão Familial
Alguns estudos constataram que o Transtorno Delirante é mais comum entre parentes de indivíduos com Esquizofrenia do que seria esperado do mero acaso, enquanto outros estudos não encontraram qualquer relação entre Transtorno Delirante e Esquizofrenia.

Existem algumas evidências de que o Transtorno da Personalidade Esquiva e o Transtorno da Personalidade Paranóide podem ser especialmente comuns entre parentes biológicos em primeiro grau de indivíduos com Transtorno Delirante.

Diagnóstico Diferencial
O diagnóstico de Transtorno Delirante é feito apenas quando o delírio não se deve aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância ou de uma condição médica geral. Um delirium, uma demência e um Transtorno Psicótico Devido a uma Condição Médica Geral podem apresentar sintomas que lembram o Transtorno Delirante. Por exemplo, delírios simples de perseguição (por ex., "alguém entra em meu quarto à noite e rouba minhas roupas") na fase inicial da Demência do Tipo Alzheimer seriam diagnosticados como Demência [288]do Tipo Alzheimer, Com Delírios.

Um Transtorno Psicótico Induzido por Substância, especialmente devido a estimulantes como anfetamina e cocaína, pode ter sintomatologia idêntica ao Transtorno Delirante, mas geralmente pode ser diferenciado pela relação cronológica entre o uso da substância e o início ou a remissão das crenças delirantes.

O Transtorno Delirante pode ser diferenciado da Esquizofrenia e do Transtorno Esquizofreniforme pela ausência de outros sintomas característicos da fase ativa da Esquizofrenia (por ex., alucinações auditivas ou visuais proeminentes, delírios bizarros, discurso desorganizado, comportamento amplamente desorganizado ou catatônico, sintomas negativos). Comparado com a Esquizofrenia, o Transtorno Delirante em geral produz menos prejuízo nos funcionamentos ocupacional e social.

Pode ser difícil distinguir entre Transtornos do Humor com Aspectos Psicóticos e Transtorno Delirante, uma vez que os aspectos psicóticos associados com os Transtornos do Humor geralmente envolvem delírios não-bizarros sem alucinações proeminentes.

A distinção depende do relacionamento temporal entre a perturbação de humor e os delírios e da gravidade dos sintomas de humor.

Se os delírios ocorrem exclusivamente durante episódios de humor, o diagnóstico é de Transtorno do Humor com Aspectos Psicóticos. Embora os sintomas depressivos sejam comuns no Transtorno Delirante, eles geralmente são leves e apresentam remissão, ao passo que os sintomas delirantes persistem, e não indicam um diagnóstico separado de Transtorno do Humor.

Ocasionalmente, sintomas de humor que satisfazem todos os critérios para um episódio de humor são sobrepostos à perturbação delirante. Se os sintomas que satisfazem os critérios para um episódio de humor estão presentes por uma porção substancial da perturbação delirante (isto é, o equivalente delirante do Transtorno Esquizoafetivo), então se aplica um diagnóstico de Transtorno Psicótico Sem Outra Especificação, acompanhado por Transtorno Depressivo Sem Outra Especificação ou Transtorno Bipolar Sem Outra Especificação.

Os indivíduos com Transtorno Psicótico Compartilhado podem apresentar sintomas similares àqueles vistos no Transtorno Delirante, mas a perturbação tem etiologia e curso característicos. No Transtorno Psicótico Compartilhado, os delírios surgem no contexto de um estreito relacionamento com outra pessoa, sua forma é idêntica aos delírios da outra pessoa, e diminuem ou desaparecem quando o indivíduo com Transtorno Psicótico Compartilhado é separado do indivíduo com o Transtorno Psicótico primário.

O Transtorno Psicótico Breve é diferenciado do Transtorno Delirante pelo fato de os sintomas delirantes, no Transtorno Psicótico Breve, durarem menos de 1 mês.

Um diagnóstico de Transtorno Psicótico Sem Outra Especificação pode ser feito quando não há informações suficientes disponíveis para selecionar entre Transtorno Delirante e outros Transtornos Psicóticos, ou para determinar se os sintomas apresentados são induzidos por uma substância ou resultam de uma condição médica geral.

Pode ser difícil diferenciar a Hipocondria (especialmente Com Insight Pobre) do Transtorno Delirante. Na Hipocondria, os temores de ter uma doença grave ou a preocupação acerca de ter uma doença séria são mantidos com uma intensidade que não chega a ser delirante (isto é, o indivíduo consegue admitir a possibilidade de que a doença temida não está presente).

O Transtorno Dismórfico Corporal envolve uma preocupação com algum defeito imaginário na aparência. Muitos indivíduos com este transtorno mantêm crenças com uma intensidade que não chega a ser delirante e reconhecem que sua impressão sobre a própria aparência é distorcida.

Uma parcela significativa dos indivíduos cujos sintomas satisfazem os critérios para Transtorno Dismórfico Corporal, entretanto, mantém suas crenças com intensidade delirante.

Quando os critérios para ambos os transtornos são satisfeitos, tanto Transtorno Dismórfico Corporal quanto Transtorno Delirante, Tipo Somático, podem ser diagnosticados. Os limites entre Transtorno Obsessivo-Compulsivo (especialmente Com Insight Pobre) e Transtorno Delirante às vezes podem não ser claros.

A capacidade dos indivíduos com Transtorno Obsessivo-Compulsivo de reconhecer que as obsessões e compulsões são excessivas ou irracionais ocorre em uma linha contínua. Em alguns indivíduos, o teste de realidade pode ter-se perdido, podendo a obsessão alcançar proporções delirantes (por ex., a crença de ter causado a morte de alguém por tê-la desejado).

Se as obsessões progridem para crenças delirantes persistentes que representam um papel importante no quadro clínico, pode-se aplicar um diagnóstico adicional de Transtorno Delirante.

Em comparação com o Transtorno Delirante, não existem crenças delirantes definidas ou persistentes no Transtorno da Personalidade Paranóide. Sempre que uma pessoa com um Transtorno Delirante tem um Transtorno da Personalidade preexistente, o Transtorno da Personalidade deve ser anotado no Eixo II, seguido pela expressão "Pré-mórbido", entre parênteses.

Critérios Diagnósticos para F22.0 - 297.1 Transtorno Delirante
A. Delírios não-bizarros (isto é, envolvendo situações que ocorrem na vida real, tais como ser seguido, envenenado, infectado, amado a distância, traído por cônjuge ou parceiro romântico ou ter uma doença) com duração mínima de 1 mês.
B. O critério A para Esquizofrenia jamais foi satisfeito.
Nota: alucinações táteis e olfativas podem estar presentes no Transtorno Delirante, se relacionadas ao tema dos delírios.
C. Exceto pelo impacto do(s) delírio(s) ou de suas ramificações, o funcionamento não está acentuadamente prejudicado, e o comportamento não é visivelmente esquisito ou bizarro.
D. Se episódios de humor ocorreram durante os delírios, sua duração total foi breve relativamente à duração dos períodos delirantes.
E. A perturbação não se deve aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (por ex., uma droga de abuso, um medicamento) ou de uma condição médica geral.
Especificar tipo (os tipos seguintes são atribuídos com base no tema predominante do(s) delírio(s):
Tipo Erotomaníaco: delírios de que outra pessoa, geralmente de situação mais elevada, está apaixonada pelo indivíduo.
Tipo Grandioso: delírios de grande valor, poder, conhecimento, identidade ou de relação especial com uma divindade ou pessoa famosa.
Tipo Ciumento: delírios de que o parceiro sexual do indivíduo é infiel.
Tipo Persecutório: delírios de que o indivíduo (ou alguém chegado a ele) está sendo, de algum modo, maldosamente tratado.
Tipo Somático: delírios de que a pessoa tem algum defeito físico ou condição médica geral.
Tipo Misto: delírios característicos de mais de um dos tipos acima, sem predomínio de nenhum deles.
Tipo Inespecificado.

Transtorno Esquizofreniforme
As características essenciais do Transtorno Esquizofreniforme são idênticas às da Esquizofrenia (Critério A), exceto por duas diferenças: a duração total da doença (incluindo fases prodrômica, ativa e residual) é de pelo menos 1 mês, mas inferior a 6 meses (Critério B), e não é exigido um prejuízo no funcionamento social ou ocupacional durante alguma parte da doença (embora possa ocorrer). A exigência de duração para o Transtorno Esquizofreniforme é intermediária entre a do Transtorno Psicótico Breve (no qual os sintomas duram no mínimo 1 dia, mas menos de 1 mês) e a da Esquizofrenia (na qual os sintomas persistem por pelo menos 6 meses). O diagnóstico de Transtorno Esquizofreniforme é feito sob duas condições: na primeira, o diagnóstico é aplicado, sem qualificação, para um episódio da doença com duração entre um e 6 meses, do qual o indivíduo já se recuperou; no segundo caso, o diagnóstico é aplicado quando uma pessoa que, embora sintomática, apresentou os sintomas por um período inferior aos 6 meses exigidos para o diagnóstico de Esquizofrenia. Neste caso, o diagnóstico de Transtorno Esquizofreniforme deve ser qualificado como "Provisório", uma vez que não existe certeza de que o indivíduo realmente se recuperará da perturbação dentro do período de 6 meses. Se a perturbação persiste além de 6 meses, o diagnóstico deve ser mudado para Esquizofrenia.

Especificadores
Os seguintes especificadores para o Transtorno Esquizofreniforme podem ser usados para indicar presença ou ausência de aspectos possivelmente associados com um melhor prognóstico:

Com Bons Aspectos Prognósticos. Este especificador é usado se pelo menos dois dos seguintes aspectos estão presentes: aparecimento de sintomas psicóticos proeminentes em quatro semanas após a primeira alteração perceptível no comportamento ou funcionamento habitual, confusão ou perplexidade no pico do episódio psicótico, bom funcionamento social e ocupacional pré-mórbido e ausência de afeto plano ou embotado. Sem Bons Aspectos Prognósticos. Este especificador é usado se dois ou mais dos aspectos acima não estão presentes.

Características e Transtornos Associados
Diferentemente da Esquizofrenia, não se exige prejuízo no funcionamento social ou ocupacional para fazer um diagnóstico de Transtorno Esquizofreniforme. Entretanto, a maioria dos indivíduos experimenta disfunção em várias áreas do funcionamento diário (por ex., trabalho ou escola, relacionamentos interpessoais e cuidados pessoais).

Características Específicas à Cultura, à Idade e ao Gênero
Para uma discussão adicional sobre os fatores da cultura, idade e gênero relevantes para o diagnóstico de Transtorno Esquizofreniforme, ver a seção "Características Específicas à Cultura, à Idade e ao Gênero" para Esquizofrenia. Existem sugestões de que, nos países em desenvolvimento, a recuperação de Transtornos Psicóticos pode ser mais rápida, o que resultaria em taxas maiores de Transtorno Esquizofreniforme do que de Esquizofrenia.

Prevalência
Estudos comunitários relataram uma prevalência do Transtorno Esquizofreniforme durante a vida em torno de 0,2%, com uma prevalência anual de 0,1%.

Curso
Existem poucas informações disponíveis sobre o curso do Transtorno Esquizofreniforme. Aproximadamente um terço dos indivíduos com um diagnóstico inicial de Transtorno Esquizofreniforme (Provisório) recupera-se dentro do período de 6 meses e recebe o diagnóstico final de Transtorno Esquizofreniforme. Os dois terços restantes progridem para um diagnóstico de Esquizofrenia ou Transtorno Esquizoafetivo.

Diagnóstico Diferencial
Uma vez que os critérios de diagnóstico para Esquizofrenia e Transtorno Esquizofreniforme diferem primariamente em termos de duração da doença, a discussão sobre o diagnóstico diferencial de Esquizofrenia também se aplica ao Transtorno Esquizofreniforme. O Transtorno Esquizofreniforme difere do Transtorno Psicótico Breve, que tem uma duração menor do que 1 mês.