drogas
Aspectos Atuais da Dependência
Os hospitais detectam cada vez mais drogadictos com quadro de psicose concomitante a drogadicção (principalmente a psicose cocaínica) a ponto de se constatar que 70% dos cocainômanos sofrem alguma patologia mental. A psicose cocaínica começa a ser cada vez mais freqüente nas consultas psiquiátricas, sugerindo existir uma relação muito estreita entre a cocaínomania e outras enfermidades psíquicas.
Até 75% dos pacientes que recorrem aos hospitais por consumo de cocaína apresentam ou apresentaram antes alguma patologia mental.
Em torno de 70% dos cocainômanos sofrem algum transtorno mental.
As áreas cerebrais onde esta droga atua provocando disfunções são as mesmas dos casos de crises de angústia, crises compulsivas ou da psicose paranóide. Os psiquiatras não podem ignorar este novo fenômeno clínico e essa nova informação da neurobiologia.
Para o psiquiatra de Madrid, Luis Caballero, existe um ponto de encontro entre as áreas cerebrais sobre as quais atua a cocaína e as zonas cuja disfunção origina sintomas que levam o paciente à consultar o psiquiatra. Entre esses transtornos emocionais que existem concomitante à drogadicção por cocaína estão os transtornos afetivos, tanto cíclicos como unipolares; as depressões e os quadros maníaco-depressivos; os transtornos do controle dos impulsos; os quadros de angústia; os transtornos de personalidade e a própria psicose cocaínica.
Para Caballero, quase 75% dos cocainômanos têm, ao mesmo tempo, mais de um problema psiquiátrico.
O psiquiatra clínico que lida com esse problema enfrenta importantes problemas, tendo em vista que a farmacologia para tratamento da adicção à cocaína é muito reduzida. A adição à cocaína tem sido mais difícil ainda, considerando-se não existirem substâncias agonistas e antagonistas efetivos para esta droga. Será necessário um maior conhecimento da psicopatologia e a psicofarmacologia, que já tem conseguido medicamentos eficazes na heroínomania e o alcoolismo.
Apesar de ter se registrado um grande avanço na investigação neurobiológica na última década, isso não permitiu, por si só, um otimismo exagerado em relação aos problemas das drogas. Não bastará apenas a descoberta um novo fármaco para acabar com a cocaínomania, pois o advento da metadona e da naltrexona também não resolveu de vez com o problema da heroína e do alcoolismo. A questão da dependência ultrapassa a carência de uma droga agonista ou antagonista.
Para se corrigir a adicção cocaínica deve-se, antes, pleitear a recuperação da pessoa acometida. Isso implica num bom conhecimento das funções cerebrais, da farmacologia, das possibilidades de se modificar os hábitos desviados, das abordagens da psicoterapia e das intervenções sociais.
Caballero tem explicado que a cocaínomania é uma adicção com algumas peculiaridades que a diferenciam da adicção, por exemplo dos opiáceos e do álcool, sobretudo na forma de apresentação. Trata-se de um consumo mais intermitente mas, não obstante, mais adictivo e fora de controle, o qual leva a pessoa a muitas complicações clínicas. Na cocaína, os critérios de dependência são os mesmos que nos outros transtornos similares, mas o que caracteriza o cocainômano é a sensação subjetiva de perda de controle e a impossibilidade de parar de consumir a droga, apesar dos esforços para evitá-lo.
As alterações cerebrais ocasionados pela adicção de cocaína interessam à psiquiatria e psiconeurologia devido às recentes constatações da atuação da droga em neuroreceptores e em determinadas áreas que estão igualmente implicadas nos sintomas de outras enfermidades mentais.
Encontrado um mecanismo que permitirá novas terapias para a adicção
A descoberta de um método de comunicação celular no cérebro poderia favorecer tratamentos melhorados para a esquizofrenia e para a adicção, segundo estudo canadense do Centro de Adicção e Saúde Mental do Hospital Infantil da Universidade de Toronto, recentemente publicado na revista Nature.
Muitos sintomas associados com a esquizofrenia e com a adicção são causados por um excesso ou um defeito de dopamina e GABA, sustâncias químicas cerebrais que regulam o aprendizado, a memória, a emoção e o conhecimento. Os investigadores têm comprovado como as proteínas poderiam modificar entre elas suas funções mútuas, incluindo a capacidade dos neurônios de aceitar ou recusar a dopamina e outros neurotransmissores, ao unir-se entre eles.
Hyman Niznik, psiquiatra e diretor da pesquisa, disse ter encontrado um método desconhecido de transmissão de sinais entre dois sistemas de neuroreceptores estruturalmente diferentes. Esse fato poderá sugerir uma nova janela terapêutica sobre como restaurar a função celular normal através de medicação em enfermidades como a esquizofrenia ou drogadicção.
As células cerebrais se comunicam entre si por meio dos neurotransmissores que interagem com as proteínas dos neuroreceptores nos neurônios adjacentes. Há muitos tipos de receptores cerebrais, mas só alguns respondem a dopamina, por exemplo, outros respondem ao GABA (ácido gama aminobutírico) e assim por diante.
Entre os receptores da dopamina, os chamados D1 e D5 são muito parecidos e respondem aos mesmos medicamentos. Certos sintomas da esquizofrenia e da adicção estão regulados por receptores de tipo D1. Os receptores de dopamina D5 poderiam modificar a função dos receptores GABA.
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O drogadicto deve ser tratado como doente crônico e a terapia de recaídas deve ser multifatorial
A adicção a drogas é uma doença crônica e o adicto deve ser tratado como um paciente susceptível a tratamento e que, assim como sucede com outras patologias, o êxito o fracasso vai a depender do conhecimento de sua fisiopatologia, bem como de uma adequação dos tratamentos. Esses, devem ser sempre individualizados e a abordagem de cada caso deve ser multidisciplinar.
Para Del Alámo, professor de Farmacologia da Universidade de Alcalá, em Madri, a grande importância do tratamento multifatorial e individual da adicção requer que a terapia considere múltiplos aspectos. O tratamento baseado exclusivamente na farmacologia conduz ao fracasso.
Além disso, o autor tem insistido no fato da adicção a drogas ser uma patologia crônica do funcionamento do cérebro, equiparada talvez à esclerose múltipla, a diabetes ou a hipertensão arterial, ou seja, respeitando os problemas de todas as doenças crônicas.
Áreas cerebrais
Emilio Ambrosio, do Departamento de Psicologia de a Universidade Nacional de Educação a Distância (UNED) da Espanha, tem se concentrado na neurobiologia dos processos de recaídas, particularmente no consumo de cocaína.
Os estudos têm demonstrado que nesta fase se desenvolvem adaptações neurológicas nos sistemas glutaminérgico, dopaminérgico, opióide e de CFR durante a interrupção da conduta de auto administração de cocaína em diversas regiões cerebrais.
Segundo Ambrosio, estas adaptações são mais permanentes e duradouras nos sistemas dopaminérgico e opióide. O autor sugere que durante a abstinência de psicoestimulantes se produzem adaptações em distintos sistemas de neurotransmissores suficientes para manter o desejo pela droga, exacerbar a potencia dos estímulos condicionados, aumentar a ansiedade e, finalmente, favorecer uma maior vulnerabilidade à recaída.
Os estudos para prevenir as recaídas se utilizam de alguns fármacos antagonistas de os receptores opiáceos. Entre essas substâncias estão o disulfiram, a naltrexona e o acamprosato, todos demonstrando ser eficazes. Também se investigam agentes moduladores da transmissão serotoninérgica, como a buspirona, os inibidores da recaptação da serotonina, tais como a fluoxetina e o citalopram.
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Antagonistas opióides podem ser úteis para limitar o consumo de drogas
O conhecimento da neurobiologia das adicções é um passo necessário para a investigação de tratamentos farmacológicos que resultem eficazes contra a adicção a drogas. Luis F. Alguacil, da Universidad San Pablo CEU, e José Antonio Ramos Atance, da Universidad Complutense, ambas em Madrid, tem apresentado durante as XXVII Jornadas Nacionales de Socidrogalcohol os últimos dados neste campo.
As novas estratégias farmacológicas para limitar o abuso de drogas dependerão do papel que desempenha o sistema opióide endógeno e da investigação de seus antagonistas. Segundo Alguacil, o sistema opióide endógeno não só é responsável do potencial abuso de opiáceos, mas também está implicado nos efeitos psico-farmacológicos de outro tipo de drogas. As evidências disponíveis sobre o rol do sistema opióide endógeno nos efeitos de os psico-estimulantes e do etanol sugerem que os antagonistas de opióides possam ser úteis para limitar o consumo em humanos.
Neste sentido, os antagonistas de opiáceos têm o vão ter uma importante utilidade para levar a cabo uma caracterização farmacológica do receptor, para confirmar a atividade do agonista, para criar uma síndrome de abstinência nos modelos animais e como tratamento de patologias de hiperatividade.
Poliabuso
Especialistas têm destacado a complexidade do estudo da neurobiologia das adicções. Neste estudo temos que acrescentar que o usuário de drogas não o é de uma droga só, senão de várias que se reforçam, daí a necessidade de se trabalhar com o conceito de poliabuso.
Alguns autores já têm reconhecido a existência de um modelo de síndrome de abstinência a cannabinoides (maconha) como indícios de um primeiro passo para o conhecimento de mecanismos moleculares implicados no desenvolvimento da dependência a tais compostos e nos possíveis tratamentos para este tipo de adicção.
A equipo de Ramos (DM de 5-III-98 e de 23-IV-98) há vários anos investiga o sistema de transmissão cannabinoide e as adicções. A pesar de tudo, todavia, não se conhece com exatidão qual é o papel no cérebro do sistema cannabinoide endógeno, ainda que parece participar em diversas funções neurobiológicas; entre essas se encontram as relacionadas com o comportamento motor, a nocicepção, a memória e a aprendizagem.
Essas pesquisas mostram que o consumo crônico de cannabinoides induz uma tolerância cujos mecanismos moleculares agora começam a ser compreendidos. Sabe-se já que a terapia crônica com 9-tetrahidrocannabinol (THC) ou com anandamida produz uma dessensibilização dos receptores chamados CB1 em algumas regiões do sistema nervoso central. Não obstante, tem-se reconhecido que ainda estão numa fase inicial de investigação.
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Fontes:
Ballone GJ - Aspectos Atuais da Dependência - in. PsiqWeb, Internet